Já que falam tanto do amor na terceira idade, nada melhor do que dizer que namorar é muito bom, e todo mundo sabe! Mas que também pode ser muito complicado, isso a gente também tem que reconhecer! Mas o pior de tudo eu ainda não havia percebido até encontrar um velho amigo que estava inconsolável, apesar de esbanjar no rosto aquele olhar abobalhado que todo apaixonado mostra. Ele de cara puxou o assunto namoro e lembrou os tempos de nossa juventude, quando sempre tinha também um irmãozinho servindo de vela, que às vezes se comprava com meia dúzia de trocados para ir comprar balas ou figurinhas de álbuns. Quando não era irmão era irmã, pai ou mãe, de olho no espelho que ficava na sala de frente para o sofá, que dava vistas de vigilância lá da cozinha. E os dois sentados no sofá, conversando abobrinhas. “Nem sequer um beijinho, meu!” Exclamou ele. E eu fique lembrando que era assim mesmo, embora alguns fossem mais espertos e usavam o jornal do sogro, daqueles grandões, até da semana anterior, para ler! Lembram deles? Pois ele segurava numa ponta e ela na outra, e ficavam os dois atrás, só lendo o que os lábios do outro diziam! Santo jornalão, que saudades você me traz! Mas meu amigo, continuava com seu devaneio. “Quando era hora de ir embora, a gente até podia se despedir no portão, mas aí, além de alguém espiando pela fresta da janela sempre tinha uma vizinha fofoqueira de plantão para no outro dia contar tudo! Até o que não vira!” Não agüentei mais aquele conversa e perguntei, porque toda aquela história de namoro, o que estava acontecendo? Simplesmente ouvi, “Cara, não é fácil namorar não, poxa!” Sabia que ele estava sozinho há muito tempo, solteirão convicto nunca se interessara por ninguém, por isso sua resposta me pegou de surpresa. “Estou, e isso é que me deixa chateado!” Caí para trás na cadeira do café e não contive meu “Eu não acredito!” Mas arrematei que isso era muito bom, pois afinal de contas ele merecia ainda ser feliz ao lado de alguém, bla, blá, blá, blá... “Mas não é fácil, cara!” disse ele desconsolado, e eu quis saber por que, ora bolas! “Hoje não falamos de Beatles, Dr. Jivago, não... Ficamos falando das fofocas da cidade, de gente chata, de religião, de política e assim por diante! Lá no sofá, como sempre!” E ele continuou. “E o pior são os filhos dela, cara! Vigiando o tempo inteiro, querendo saber o que fizemos ou vamos fazer, aonde vamos... Sempre com aquelas caras desconfiadas pro meu lado... Poxa meu! Está muito difícil namorar!” Achei que era meu dever consolá-lo e a titulo disso lhe disse afetuoso. “Por enquanto meu amigo, pelo menos você não me disse que estão aparecendo também os netinhos com ar de sabe-tudo, para dar ordens, pentelhando o chimarrão vocês, e ainda por cima lhe chamando de vovô!” Acho que disse bobagem, pois ele me olhou com um ar ainda mais desconsolado, levantou-se e foi embora! Nem até logo! E ainda deixou a conta do café prá mim! É... Devia estar mesmo sendo difícil namorar!
Antonio Jorge Rettenmaier, Escritor, Cronista e Palestrante, membro da AGEI, Associação Gaúcha dos Escritores Independentes. Esta coluna está em mais de 80 jornais impressos e eletrônicos do Brasil e Exterior. Email ajrs010@gmail.com
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