Começou nesta quinta-feira (24) o “Curso de Direito à Saúde - Módulo III
- Controle Social e Ministério Público: práticas e desafios na modernidade do
SUS”, promovido pelo MP-PR, por meio do Centro de Apoio Operacional das
Promotorias da Saúde Pública e do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional
(CEAF), em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde e o Conselho
Estadual de Saúde.
O evento, que acontece até esta sexta-feira (25), no auditório do Museu
Oscar Niemayer, em Curitiba, foi aberto pelo procurador-geral de Justiça,
Gilberto Giacoia. Também compuseram a mesa de abertura o secretário de Estado da
Saúde, Michele Caputo Neto, o corregedor-geral do MP-PR, Moacir Gonçalves
Nogueira Neto, a subprocuradora-geral de Justiça para Assuntos Jurídicos e
coordenadora do CEAF, Samia Saad Gallotti Bonavides, o subprocurador-geral de
Justiça para Assuntos de Planejamento Institucional, Bruno Sérgio Galatti, o
coordenador do CAO das Promotorias da Saúde Pública, Marco Antonio Teixeira, a
secretária municipal de Saúde, Eliane Regina da Veiga Chomatas, a presidente do
Conselho Estadual de Saúde, Joelma Aparecida de Souza Carvalho, e o presidente
da Associação Paranaense do Ministério Público, Vanderlei Carvalho da
Silva.
Em sua fala, o procurador-geral de Justiça afirmou que a atuação do
Ministério Público deve se pautar pela preferência a quem não pode aguardar a
dimensão temporal do processo. “Nossa incumbência trazida pela Constituição
Cidadão nos coloca sempre a frente desse drama: não ser uma instituição igual
para todos; e essa reflexão nunca foi tão forte quanto tem sido na área da saúde
pública. A saúde é aquele direito fundamental que não é compatível com o
cadenciamento do tempo”, disse.
O secretário de Estado da Saúde, Michele Caputo Neto, ressaltou a
importância do diálogo franco entre o Executivo, o Ministério Público e as
instâncias de controle social. “E acredito que temos tido um diálogo
extremamente produtivo”, afirmou, informando, ainda, que no dia anterior foi
aprovado o Plano Estadual de Saúde 2012-2015. A presidente do Conselho
Estadual de Saúde, Joelma Aparecida de Souza Carvalho, por sua vez, pontuou a
importância do tema do evento: “Fico muito feliz por neste módulo do curso estar
sendo discutido exatamente o controle social”, disse.
Palestra de abertura - A palestra de abertura ficou a cargo do
conselheiro nacional de saúde pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
(CEBES), Alcides Silva de Miranda. Médico e professor com mestrado
em Saúde
Pública (UECE) e doutorado em Saúde Coletiva (ISC-UFBA), ele
abordou a problemática da saúde pública no Brasil, as deliberações da 14ª
Conferência Nacional de Saúde e a expectativa que se tem em relação à atuação do
Ministério Público na área.
Em uma palestra riquíssima em informações e reflexões, Miranda trouxe
dados da Ampasa - Associação Nacional do Ministério Público de
Defesa da Saúde, que mostram que mais de 95% das demandas do Ministério Público
na área da saúde referem-se a situações individuais. “As ações coletivas são
muito poucas. O que se espera do MP é um estímulo, inclusive pedagógico, às
demandas coletivas, e o entendimento de que os casos individuais têm aspectos
que devem ser trabalhados como demanda coletiva”. E complementou: “É
imprescindível que controle social e Ministério Público possam atuar de forma
proativa e não somente reativa e estabelecer sistemáticas de ação que possam ser
replicadas em vários casos, precavendo-se de problemas que possam surgir”.
O palestrante destacou também a importância de se dar a devida atenção às
questões relacionadas ao atendimento de média complexidade. “O SUS é universal
na baixa complexidade e nos
procedimentos de alto custo, que não interessam ao setor privado. Na média
complexidade, no entanto, onde há um nicho de mercado, aparece a gestão
agenciada e, muitas vezes, transfere-se a responsabilidade de gestão para ONGs,
OSs, OSCIPs e outros tantos. Há uma transferência de responsabilidade que pode
descaracterizar a política pública ao submetê-la à preponderância do mercado”.
Outro desafio apontado por Miranda é a dificuldade de se monitorar a observância
das diretrizes das Conferências de Saúde. Ele afirma que essas deliberações, que
devem dar os rumos das ações governamentais, nem sempre são observadas, nem
mesmo pelos próprios Conselhos de Saúde. “A maioria cai numa espécie de limbo e
os próprios conselhos não tomam as deliberações das conferências como agenda.
Essa é uma grande preocupação”. O conselheiro informou que será levado ao
Conselho Nacional de Saúde ainda neste mês proposta de resolução que prevê o
monitoramento, por meio de uma pauta de agendamento das deliberações das
conferências pelos conselhos.
Miranda ainda ressaltou a importância de uma maior transparência no
controle social e governamental e atenção e salvaguarda da gestão social, mesmo
com as amarras da Lei de Responsabilidade Fiscal. Deve-se estabelecer um marco
regulatório que possibilite mediação entre responsabilidade fiscal e
responsabilidade social, estabelecendo o que deve ser garantido como de
interesse público. “A LRF prepondera e passa a ser uma camisa de força que
constrange a responsabilidade social e cria efeitos colaterais como as
iniciativas de agenciamento da responsabilidade de gestão pública”, afirmou.
Pontuou ainda o modelo “tecnocrático econométrico” da governança em saúde no
Brasil, onde trabalha-se com a lógica do que o mercado estabelece como oferta, o
que nem sempre condiz com as necessidades da população e o perfil epidemiológico
das diversas regiões do país. “Se ficamos restritos a essas instâncias de
governança tecnocrática, dificilmente vamos colocar numa rota de aproximação
aquilo que se regula daquilo de que se necessita”.
Troca de experiências – Na
sequência do evento, ainda pela manhã, houve amplo debate, num formato inovador
neste III Módulo do curso, permitindo a troca de experiências entre promotores
de Justiça que atuam na área. Eles apresentaram as formas de enfrentamento
institucional que encontraram para solucionar questões de direito sanitário em
suas comarcas, especialmente na tutela dos direitos coletivos e
difusos.
À tarde, foi realizada palestra de Liliam Cristina Brandalise,
secretária executiva do Conselho Estadual de Saúde do Paraná de
2008 a
2011, que abordou o tema “Um olhar sobre a realidade dos Conselhos de Saúde no
Paraná” e o painel “Conselhos de Saúde e o MP: problemas e soluções”, com
Antonio Garcez Novaes Neto, professor de saúde pública e ex-presidente do CES/PR
e José Roberto Moreira, promotor de Justiça do MP-PR. Também foi discutida,
pelos membros do MP-PR, proposta de interiorização dos trabalhos do Centro de
Apoio Operacional das Promotorias da Saúde Pública e a organização do próximo
módulo do curso.
O evento continua nesta sexta-feira (25), a partir das 8h30.
As informações são da Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Paraná.
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